Uma exposição histórico-confessional

A posição batista acerca da soteriologia é uma área tanto quanto controversa, talvez mais que a questão da própria origem dos batistas, é necessário então olharmos na história dos Batistas, suas principais confissões, e verificar se pode-se achar algumas respostas e a identidade batista no campo soteriológico. Hoje em dia temos basicamente dois “tipos” de batistas: os gerais, que creêm numa visão mais inclusiva do sacrifício de Cristo em favor de todos e os particulares, que tem uma visão mais particularista e exclusivista para a expiação de Cristo (Cristo morreu somente pelos crentes, ou eleitos).

Para vermos acerca da posição batista na história sobre a soteriologia, veremos as confissões de fé e seu teor acerca deste assunto, iremos, então, dividir os períodos sobre as confissões, que serão: o período anabatista (confissões de fé anabatistas e separatistas de grupos que deram origem e influenciaram os batistas), o período anglicano (confissões feitas na Inglaterra no século XVII) e o período americano (confissões do século XVIII e XIX). Após analisarmos cada período e confissões, veremos como foi construída a tradição batista na soteriologia e talvez estejamos aptos a dar uma resposta nesse assunto.

Neste texto deve-se ressaltar que a análise das confissões não tem por objetivo verificar sobre a base bíblica de uma ou outra doutrina, mas sim um objetivo histórico-identitario e confessional, a fim de conhecermos o que um batista pode ou não pode defender dentro dos termos soteriológicos de acordo com a tradição batista no geral.

Confissões anabatistas

Em primeiro lugar veremos as confissões que deram origem ao pensamento batista moderno, aqui as confissões anabatistas e separatistas tem sua influência no pensamento batista posterior. Os anabatistas possuem uma característica específica no aspecto confessional: eles não faziam suas confissões a priori com intento de declarar a fé de uma forma dogmatizada, mas sim de defender-se de certas acusações inverídicas e de expor seus pensamentos acerca das doutrinas que lhes diferenciavam de reformados e católicos romanos. Por isso, poucas confissões dos anabatistas, tanto da Idade Média quanto da época da Reforma, tocam especificamente no assunto soteriologia, normalmente as confissões eram expressões específicas de um grupo ou de um líder e seus seguidores, e muitas não eram formulações teológicas completas ou complexas, mas há algumas que podemos avaliar em respeito ao campo soteriológico para identificar o pensamento batista soteriologico na sua origem e influência.

Dentre estas confissões podemos destacar a confissão de fé dos anabatistas menonitas conhecidos como Walterlanders, anabatistas holandeses que se ajuntaram com o grupo de Hewlys e Smyth, dando origem ao movimento batista moderno, também destacaremos a confissão de fé do grupo dos brownistas, outro grupo de origem e influência para os batistas, chamada A True Confession (Uma Verdadeira Confissão) que terá elementos soteriológicos a serem destacados.

Confissão de Fé Waterlander (1577)

Essa confissão anabatista menonita tem sua origem e colaboração de Hans de Ries, um líder anabatista que influenciou John Smyth e foi correspondente de algumas igrejas batistas inglesas no início. A confissão tem expressões acerca da salvação que nos dão noção daquilo que estes anabatistas criam. Sobre a encarnação de Cristo já é dito que Cristo é o “Salvador do mundo” (artigo IV), mais a frente sobre a queda é dito que Deus enviou Cristo para que “a vida e salvação fosse proclamada a todos os homens” (artigo VII), aqui fica clara a aderência ao ensino da expiação ilimitada. Ainda neste mesmo artigo a confissão declara “confessamos que Deus viu, antes da fundação do mundo, quem ouviria a Palavra de Seu Filho, aceitaria Seu ensino e O receberia pela fé. Por meio dessa presciência, Ele prometeu, em Sua graça, revelar Sua glória por meio de Seu Filho, pela concessão da vida eterna.”¹, ou seja, este grupo aderia a eleição na forma condicional (presciência). Sobre a atuação da graça, ela é resistível, não somente isso, mas a morte de Cristo proveu graça suficiente para todos superando o poder do pecado original como diz a confissão: “Confessamos e cremos a respeito do pecado original, que Cristo libertou toda a raça humana de seu poder”², sendo assim a graça é oferecida a todos e é resistível. Portanto a posição dos waterlanders se assemelha muito a posição arminiana (mais especificamente a wesleyana).

A True Confession (1596)

Essa confissão de fé também foi feita na Holanda, pelos separatistas chamados brownistas que haviam fugido da Inglaterra devido a perseguição deflagrada pela rainha Elizabete I. Esta confissão, em oposição a confissão waterlander acima, afirma que a eleição foi de forma incondicional pois “Deus tem, em Cristo, antes da fundação do mundo , de acordo com o bom desejo de Sua vontade, ordenado alguns homens e anjos para a vida eterna, a ser consumada através de Jesus Cristo, para louvor da glória da Sua graça”³, e esses eleitos são “redimidos, vivificados, levantados e salvos de novo, não por causa deles mesmo, nem por obras (pois qualquer homem se perderia), mas totalmente e somente por Deus pelo Sua livre graça e misericórdia através da fé em Cristo”4, mais a frente a confissão diz que estes benefícios são aplicados apenas nos eleitos, constituindo assim um ensino sobre a graça irresistível5. Conclui-se assim que é uma confissão que se aproxima muito do calvinismo (na sua forma clássica). Se opondo quase que totalmente a confissão anterior vista.

Confissões Batistas Inglesas (Século XVII)

Como já percebido, as confissões anabatistas destacadas já possuíam uma abrangência soteriológica grande. Isso não parou por aí, após a ascensão do movimento Batista moderno, várias outras confissões foram escritas, e cada uma trazia consigo sua visão soteriológica. Aqui é importante ressaltar que as controvérsias soteriológicas já estavam em voga, tanto dentro do protestantismo (calvinismo e arminianismo) quanto dentro do contexto católico (tomismo e molinismo), por isso tais confissões são mais abrangentes ao assunto soteriológico, e tocam em pontos específicos como a graça preveniente e a possibilidade ou não de apostasia. Sobre estas veremos agora a seguir.

Breve Confissão de Fé de 20 Artigos de John Smyth (1609)

A primeira confissão de fé Batista a aparecer na história foi a confissão de fé pessoal de John Smyth. Esta confissão foi feita por Smyth para declarar sua fé no que se distinguia de reformados em geral, nunca foi publicada, o que leva a crer ter sido um documento de propósito específico, mas isso não significa que não houvesse temas relativos a salvação e a mecânica da mesma. Para começar John Smyth afirma que a graça de Deus é para todos de fato, sendo que ela é “oferecida a todos sem distinção, e não de forma fingida, mas de boa fé, fazendo parte das coisas criadas, que declaram as coisas invisíveis de Deus, e fazendo parte da pregação do Evangelho.”6, no pensamento de Smyth todos podem ser salvos, visto que o Evangelho deve ser oferecido a todos de boa fé, não somente isso, mas também que a graça de Deus alcança todos os homens capacitando-os a crer, eliminando a possibilidade de crer por vias naturais, sem auxilio da graça (pelagianismo/semipelagianismo) “…os homens, pela graça de Deus através da redenção em Cristo, são capazes (o Espírito Santo, pela graça, põe  diante deles, a graça prévia) de se arrepender, de crer, de se voltar para Deus e de alcançar a vida eterna; e, por outro lado, eles são capazes de resistir ao Espírito Santo, afastar-se de Deus e perecer para sempre.”7. Com esses trechos podemos identificar, além, claro, da crença na depravação total, a graça da salvação como alcançando a todos (expiação ilimitada) e sendo também resistível (graça resistível). John Smyth não foi claro quanto a questão da eleição (se incondicional ou condicional), mas parece ter aderido ao pensamento anabatista waterlander (visto se juntar a estes depois), isto é, a eleição condicional. Esta primeira confissão revela uma influência grande pensamento anabatista continental (como vimos na confissão waterlander) nas crenças desposadas pelos primeiros batistas modernos, também demonstra uma crença próxima a dos arminianos wesleyanos.

Confissão de Fé Batista de 1611

Também conhecida como Uma Declaração de Fé do Povo Inglês Remanescente em Amsterdã na Holanda é considerada a primeira declaração de fé batista moderna da história. Foi publicada por Hewlys em conjunto com sua congregação que havia voltado para Inglaterra (a qual deu origem a primeira igreja batista moderna). Esta confissão teve por objetivo em geral, demonstrar alguns aspectos divergentes teológicos entre Hewlys e Smyth (que havia se juntado de vez ao grupo dos menonitas), e é um pouco mais sofisticada, embora breve, acerca dos aspectos soteriológicos. Para início a confissão afirma também a depravação total do homem e, no seu artigo 5 diz “Que Deus, antes da fundação do mundo, Predestinou que todo aquele que nele crê será salvo (Ef.1:4 , 12; Mc. 16:16 ) e todo aquele que não crê será condenado, (Mc. 16:16) todos os que dantes conheceu (Rm. 8:29). E esta é a Eleição e reprovação falada nas Escrituras, com respeito à salvação e condenação, e não que Deus predestinou homens para serem maus e assim condenados, mas que os homens sendo maus serão condenados, pois Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (I Tm. 2:4 ), e não deseja que ninguém pereça, mas que todos os homens cheguem ao arrependimento (II Pe. 3:9). e não deseja a morte daqueles que morrem (Ez. 18:32)”8, aqui podemos já tirar algumas coisas: a eleição no ponto de vista dessa confissão é condicional e a expiação é ilimitada, ou seja, a crença de que a graça é estendida de fato a todos e que a eleição se deu pela fé. Mais a frente aparece um elemento mais sofisticado desenvolvido nesta confissão, a questão da apostasia, nesse aspecto  a esta confissão batista afirma que “ …os homens podem cair da graça de Deus (Hebreus 12:15), e da verdade, a qual eles tem recebido e conhecido (Hebreus 10:26), depois de provarem o dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, provarem a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro (Hb. 6:4, 5). E depois de terem escapado da imundície do mundo, podem ser novamente enredados nela e dominados (II Pe. 2:20). Que um homem justo pode abandonar sua justiça e perecer (Ez. 18:24, 26). E, portanto, que nenhum homem tenha a pretensão de pensar que porque ele tem, ou teve, uma vez a graça, então sempre terá a graça”9, aqui temos a primeira afirmativa, dentro do contexto batista, da realidade de apostasia do salvo. A crença desposada nesta confissão se assemelha muito ao arminianismo na sua forma clássica.

Confissão de Fé de 1614

Esta confissão foi feita pelos seguidores de John Smyth que ficaram na Holanda, como uma forma de externar suas crenças para os menonitas, a confissão foi formulada entre 1612 e 1614 e expressa tanto algumas opiniões batistas consolidadas quanto influência menonita, é a maior de todas até agora com 100 artigos. No tocante ao aspecto soteriológico a confissão inicia negando que Deus predestine ou crie alguns para perdição, e que Deus elege com base na fé em Cristo “Assim como nenhum homem gera seu filho para a forca, nem o oleiro faz o vaso para quebrá-lo; assim Deus não cria ou predestina qualquer homem para a destruição (Ez. 38, Gn. 1:27, I Co. 15:49, Gn. 5:3); Que Deus antes da fundação do mundo determinou que o caminho da vida e salvação consistisse em Cristo, e que ele previu quem o seguiria (Ef 1.5; II Tm. 1.9), e aos contrários determinou que o caminho da perdição consistisse na infidelidade e na impenitência, e que ele previu quem o seguiria (Jd. 4)”10, ou seja a eleição também é condicional e baseada em Cristo e eleitos são aqueles que o seguem. A confissão também afirma a expiação ilimitada dizendo “Que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, e que Deus em Seu amor aos Seus inimigos o enviou (Jo. 3:16); que Cristo morreu por Seus inimigos (Rm. 9:10); que Ele comprou os que O negam (II Pe. 2:1), ensinando-nos assim a amar nossos inimigos (Mt. 5:44-45).”11, e, assim como a confissão de fé anterior afirma a realidade da apostasia dizendo que “aquele que fala uma palavra contra o Espírito Santo, isto é, que após a iluminação, abandona o arrependimento e a fé em Cristo, perseguindo-os, pisoteando a pedra da aliança; voltando como o cachorro ao vômito; estes nunca serão perdoados, nem neste mundo, nem no mundo vindouro (Mt. 7:31-32, em comparação com Hb 6:4, e cap. 10:26-29; II Pe. 2:20-22)”12. Assim sendo, na soteriologia, esta confissão também é próxima do pensamento arminiano clássico.

Primeira Confissão de Fé Batista de Londres de 1644

Esta confissão de fé Batista tem este nome por ser a primeira confissão feita por igrejas batistas de Londres, sendo publicada na mesma cidade no ano de 1644. Esta confissão teve como autores representantes de sete igrejas batistas em Londres, e foi a primeira a ser uma confissão mútua. No tocante a soteriologia a confissão diz que “Deus antes da fundação do mundo, predestinou a alguns homens para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, para o louvor e glória da sua graça; havendo destinado e abandonado os demais em seu pecado para sua justa condenação, e para o louvor de seu justo veredicto. (…) tudo isto sendo da graça absoluta e livre de Deus para os eleitos, e sem nenhuma condição prevista neles para que pudessem conseguí-la.”13, ou seja eleição tem forma incondicional, diferenciando-se nesse aspecto das confissões anteriores. Na questão da expiação e alcance do sacrifício de Cristo, a confissão declara que “Cristo Jesus, por sua morte, produziu a salvação e a reconciliação somente para os eleitos; os quais são aqueles a quem Deus o Pai lhe deu.”14, corroborando o ensino da expiação limitada, sendo a primeira confissão de fé Batista (incluindo as anabatistas) a corroborar com este ensino. No aspecto da classificação da graça a confissão diz que “Esta fé normalmente é engendrada pela pregação do Evangelho, a palavra de Cristo, sem considerar nenhum poder ou capacidade do ouvinte.”15, isso demonstra aderência ao princípio da graça como irresistível. Para concluir a questão da apostasia é tratada pela confissão na afirmação de que “Os que têm a fé produzida neles, pelo Espírito, nunca podem totalmente cair; e ainda que muitas tormentas e inundações lhes fustiguem, não podem ser removidos daquele alicerce e rocha sobre o qual são estabelecidos; ou melhor, serão guardados pelo poder de Deus para a salvação”16, demonstrando não crença na apostasia de um verdadeiro salvo/eleito. Com todos esses aspectos a confissão pode ser enquadrada como próxima ao calvinismo TULIP, ou de cinco pontos.

A Fé e Prática das 30 Congregações (1651)

Na década de 1650 houve, após a ascensão de um governo republicano na Inglaterra (Commonwealth), certa liberdade religiosa para a Igreja Batista inglesa, então foi um período prolífico de associações batistas e confissões derivadas dessas coligações. Foi aqui que apareceu esta confissão de fé batista. A confissão, dentro do aspecto soteriológico, em primeiro afirmava que “Jesus Cristo, através (ou pela) graça de Deus, sofreu a morte por toda a humanidade, ou todos os homens. (Hb. 2:9)”17, assim sendo, a confissão afirma a expiação na sua forma ilimitada. No tocante ao tipo de graça, ela é dada a todos os homens, pois Cristo “dá a cada homem alguma medida de luz”18 e também que os “dons que Deus de sua livre graça dá aos homens para capacitá-los ou capacitá-los a obedecer ou crer em seu nome, são chamados de graça de Deus, pois brotam do espírito da graça”19, sendo uma graça capacitadora e habilitadora, e “Que todos aqueles que se recusam a exercer os dons da graça que Deus lhes concedeu, para que não se arrependam, nem se voltem para ele em obediência aos mandamentos que lhes são manifestos, desprezam a bondade de Deus ou sua graça gratuita, negando o Senhor que os comprou e, portanto, estão sujeitos à destruição”20, ou seja é também uma graça resistível. A confissão não trata diretamente da questão da eleição e da apostasia. Mas, de qualquer forma podemos concluir que a visão da graça (estendida a todos, inclusive os não ouvintes do evangelho), da expiação aproxima esta confissão do pensamento arminiano wesleyano.

Segunda Confissão de Fé Batista de Londres de 1654

Esta confissão foi feita e aceita nas igrejas de Londres pelos batistas denominados “gerais”, é a segunda confissão feita na cidade (a primeira de 1644 já vista foi feita pelos batistas denominados “particulares”) e conhecida como “A Verdadeira Fé/Evangelho declarada de acordo com a Escritura”. Já no artigo esta confissão declara “Que Deus, por amor, enviou seu filho ao mundo para nascer de uma mulher, morrer pelos pecados de todos os homens sob o primeiro Pacto (Jo. 3:16) (…) Que Ele (Cristo), pela graça de Deus provou a morte por todos os homens (Hb. 9:15)”21, ou seja, a expiação seria ilimitada e para todos os homens. Esta confissão não afirma nada em respeito aos outros pontos da soteriologia, apenas este, portanto concorda com luteranismo, molinismo, tomismo, arminianismo e calvinismo clássico.

Confissão de Fé de Midland (1655)

Em 1655 foi fundada a Midland Association, com 14 igrejas batistas, esta associação produziu uma confissão de fé que ficou conhecida como “Confissão de Fé de Midland”. A confissão diz a respeito da eleição que “Deus elegeu e escolheu, em Seu conselho eterno, algumas pessoas para a vida e salvação, antes da fundação do mundo”22, e que “Essa eleição foi livre em Deus, de sua própria vontade, e de forma alguma foi através, ou com referência a, quaisquer obras de fé previstas na criatura, sendo a razão para esta.”23, aderindo então ao ensino da eleição incondicional. A confissão, no tocante a ação da graça diz que os incondicionalmente eleitos são “efetivamente chamados, e os que Ele chama, Ele certamente mantém pelo Seu poder, através da fé para salvação”24, aqui temos duas posições, primeiro que a graça tem sua forma irresistível, e também uma posição favorável a perseverança dos salvos, sendo então a crença na realidade da apostasia repudiada. Mais a frente a confissão afirma que Cristo “deu a si mesmo pelos eleitos, para redimi-los para Deus por Seu sangue”25, corroborando também a crença na expiação limitada. Todas estas características apontam para uma confissão que afirma o calvinismo tulipiano ou de cinco pontos.

Confissão de Fé de Somerset (1656)

A confissão de fé de Somerset foi uma confissão feita pelas igrejas do leste da Inglaterra a fim de demonstrar que estavam em consonância com as confissões feitas pelos batistas denominados particulares em Londres. A confissão segue então quase o mesmo padrão da confissão de 1644, iniciando com a declaração de que “Deus pelo Seu Filho, livremente, sem relação a qualquer obra feita, ou a ser feita por eles [homens] como uma causa e movimento, elegeu e escolheu alguns para si antes da fundação do mundo (Ef 1:3, 4; II Tm. 1:9.), os quais, no tempo, chamará, justificará, santificará e glorificará (Rm. 8:29, 30).”26, adotando, portanto, a eleição incondicional. A confissão também afirma que “Aqueles que são escolhidos por Deus, chamados e justificados, nunca vão finalmente apostatar dEle, mas sendo nascidos do alto, são mantidos pelo poder de Deus através da fé dentro da salvação”27, o que adere a crença na perseverança dos salvos. Mais a frente a confissão também afirma que “Cristo Jesus sofreu a morte sob Pilatos, a pedido dos judeus (Lc. 23:24.), Levando os pecados de seu povo em seu próprio corpo na cruz (I Pe. 2:24), de acordo com a vontade de Deus (Is. 53:6)”28, aderindo também a crença na expiação limitada. Esta confissão, assim como a de Midland, aceita o calvinismo de cinco pontos.

Confissão de Fé Padrão de 1660

Esta confissão recebeu o nome de Standard Confession (Confissão Padrão), mas seu título original era A Brief Confession of Faith (Uma Breve Confissão de Fé). Ela foi usada pela ampla maioria dos batistas gerais ingleses, e foi a mais ampla deste grupo. A confissão começa afirmando que Cristo “Deu-se a Si mesmo em resgate por todos (I Tm. 2:5-6), provando a morte por todos os homens (Hb. 2:9), uma propiciação pelos nossos pecados, mas não somente pelos nossos, mas pelos do mundo inteiro (I Jo. 2:2)”29 e “Que Deus não deseja que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento (II Pe. 3:9) e o conhecimento da verdade, para que sejam salvos (I Tm. 2:4). Para esse fim, Cristo ordenou que o Evangelho (a saber, os felizes símbolos da remissão de pecados) seja pregado a toda criatura (Mc. 16:15). Para que nenhum homem sofra eternamente no inferno (isto é, a segunda morte) pela falta de um Cristo que morreu por eles, mas como diz a Escritura, por negar o Senhor que os resgatou (II Pe. 2:1), ou porque eles não creem no nome do unigênito Filho de Deus (Jo. 3:18)”30, sendo assim, de forma clara a confissão adere a expiação ilimitada. Mais a frente se afirma que “todos os homens, em algum momento, são capacitados (pela graça de Deus), podendo ser eternamente salvos (Jo. 1:9, At. 17:30, Mc. 6:6, Hb. 3:10, 18, 19, I Jo. 5:10, Jo. 3:17)”31, aderindo a graça preveniente a todos e resistível. Mais a frente ela declara sobre a eleição que “Deus mesmo antes da fundação do mundo escolheu, (ou elegeu) para a vida eterna, aqueles que creem e assim estão em Cristo (Jo. 3:16, Ef. 1:4, II Tm. 2:13). Ainda confessamos isto, que o propósito de Deus de acordo com a eleição, não foi de forma alguma decorrente da fé prevista em, ou obras de justiça feitas pela criatura, mas apenas da misericórdia, bondade e compaixão que habita em Deus”32, aderindo a eleição na forma condicional. A confissão não declara nada explicitamente sobre a apostasia. Esta confissão se aproxima muito do arminianismo clássico com alguma característica wesleyana.

O Credo Ortodoxo (1678)

O credo ortodoxo é a mais prolixa e completa obra credal dos batistas gerais, foi um documento produzido para colocar a doutrina batista de forma geral, evitando cair em “erros” tantos do arminianismo (remonstrantes, etc) quanto de calvinistas (supralapsarianos e infralapsarianos). No tocante a eleição e predestinação, a confissão é complexa, mas declara que “Portanto, Cristo, o Segundo Adão, foi um mediador adequado entre Deus e o Homem, para reconciliar ambos em si mesmo, pelo derramamento e aspersão de seu Sangue, de acordo com o propósito eterno de Deus na eleição de Cristo, de todos que creem, ou que devem crer nele; qual Eleição Eterna, ou Transação de Aliança entre o Pai e Filho, é muito consistente com sua Vontade revelada, no Evangelho. Pois não devemos opor-se à graça de Deus em nos eleger, nem ainda à graça do filho em morrer por todos os Homens (e assim para nós)”33, sendo que a eleição é dada como condicional a Cristo. Como visto há também uma defesa de Cristo morrendo por todos os homens, mais claro ainda a frente quando a confissão declara que “Cristo morreu por todos os homens, e há uma suficiência em sua morte e méritos para os pecados de todo Mundo, e designou o Evangelho para ser pregado a todos; e enviou seu Espírito para acompanhar a Palavra, a fim de gerar arrependimento e fé: Para que, se qualquer um perece, não é por falta dos meios da graça manifestada por Cristo a eles, mas pela não aceitação da Graça de Deus, oferecida gratuitamente a eles por meio de Cristo no Evangelho.”34, sendo assim aderindo a expiação ilimitada. Quanto a graça divina a confissão afirma que o homem “perdeu toda habilidade, ou liberdade de vontade, para qualquer Bem Espiritual, para sua eterna Salvação, sua vontade estando agora em cativeiro sob o pecado e Satanás; e, portanto, não é capaz de, por suas próprias forças, se converter, nem se preparar para isso, sem a ajuda de Deus. A graça [salvífica] tira a inimizade de sua vontade e, por sua graça especial, o liberta de sua escravidão natural sob o pecado, permitindo-lhe desejar livre e sinceramente, o que é espiritualmente bom, de acordo com o mandato da nova Aliança da Graça em Cristo.”35 e que “aqueles que com corações cordiais aceitam esta Graça comum, Ele no tempo, opera a Fé pura e o arrependimento sincero neles; e por sua Graça eles vem a aceitar a Cristo, como seu único Senhor e Salvador, de todo o coração; e Deus torna-se seu Pai em Cristo, e sendo então efetivamente chamados, são pela fé unidos a Jesus Cristo pela Graça para a Salvação”36, sendo que a confissão adere, então, a graça na forma resistível. Para finalizar a confissão declara que “Aqueles que são efetivamente chamados, de acordo com o propósito eterno de Deus, sendo justificados pela fé, recebem tal medida da sagrada Unção do Espírito Santo, pela qual eles certamente perseverarão até a Vida Eterna”¹, defendendo portanto a perseverança dos santos. A confissão é muito aproximada do arminianismo clássico de quatro pontos.

Confissão de Fé Batista de 1689 (1677 – 1689)

A confissão de fé Batista de Londres de 1689 talvez seja a confissão mais conhecida e completa entre todas as confissões aqui estudadas. A confissão foi planejada e escrita a partir de 1677, sendo um ambiente de perseguição nesta época, foi aprovada apenas após o Ato de Tolerância (Tolerant Act) em 1689. A confissão afirma que “aqueles que são predestinados para a vida, Deus os escolheu em Cristo para glória eterna; e isto de acordo com o seu propósito eterno e imutável, pelo conselho secreto e pelo beneplácito da sua vontade, antes da fundação do mundo, apenas por sua livre graça e amor, nada havendo em suas criaturas que servisse como causa ou condição para essa escolha”37, aderindo então ao ensino da eleição de forma incondicional. Quanto a graça salvífica diz que “Aqueles a quem Deus predestinou para a vida, Ele se agrada em chamar eficazmente, no tempo aceitável e por Ele mesmo determinado; por meio de sua Palavra e de seu Espírito; do estado natural de pecado e morte, para a graça e a salvação por Jesus Cristo. Isso Deus faz iluminando-lhes a mente de maneira espiritual e salvadora, para que compreendam as coisas de Deus; tirando-lhes o coração de pedra e dando-lhes um coração de carne; renovando-lhes a vontade e, pela sua onipotência, predispondo-os para o bem e trazendo-os irresistivelmente para Jesus Cristo.”38, ou seja, aceitando o ensino da graça na forma irresistível. A questão da expiação é vista de forma que “Cristo certamente aplica e comunica eficazmente a redenção eterna, para todos quantos Ele a obteve: fazendo intercessão por eles; unindo-os a si mesmo por seu Espírito; revelando-lhes o mistério da salvação, na Palavra e pela Palavra; persuadindo-os a crer e obedecer”39, sendo uma afirmação da expiação limitada, embora alguns afirmem que a confissão não fecha esta questão. Os salvos, segundo a confissão, podem pecar insistentemente, porém “jamais são lançados fora, pois estão selados para o dia da redenção. E herdam as promessas, na qualidade de herdeiros da salvação eterna.”40 e que “Cristo, no pacto da graça, Deus fez provisão completa para que os crentes sejam preservados na salvação. Assim como não existe pecado tão pequeno que não mereça a condenação eterna, não existe pecado tão grande que possa trazer condenação sobre os que se arrependem.”41, a confissão, portanto, crê na perseverança dos santos. Dado todo o ensino desta confissão Batista, o pensamento doutrinário se aproxima muito do calvinismo tulipiano (5 pontos).

Após o século XVII, os Batistas continuaram sua tradição mais nos Estados Unidos até chegar nos Batistas Regulares e no Brasil. Por isso veremos as confissões batistas americanas e analisar cada uma como as inglesas do século XVII

Confissão de Fé Batista Americanas (século XVIII e XIX)

Como já vimos, as confissões batistas modernas inglesas apareceram dentro de um contexto extremamente beligerante entre as ideias soteriológicas que estavam se digladiando, isso respingou nas confissões americanas, mas enquanto o tempo passava, elas se tornaram mais “permissivas” nos pontos soteriológicos não cruciais, fazendo com que algumas confissões não “escolhessem” um lado nas questões sobre a graça, a eleição, a expiação, etc. As confissões também passaram a ser mais elaboradas e extensas do que as do século XVII.

Confissão de Fé Batista da Filadélfia (1742)

A primeira confissão de fé Batista foi a confissão de Fé da Associação Batista da Filadélfia. Ela na verdade foi uma versão refeita da confissão de Fé de Londres de 1689, e foi feita para afirmar a crença dos batistas particulares numa época que os batistas gerais se tornaram numerosos. A confissão de Fé diz sobre a eleição que “Aqueles da humanidade que são predestinados para a vida, Deus, antes da fundação do mundo ser lançada, de acordo com Seu propósito eterno e imutável, e o Seu secreto conselho e o bom prazer de Sua vontade, escolheu em Cristo para a glória eterna, de Sua mera graça e amor livres, sem qualquer outra coisa na criatura como condição ou causa que a mova para isso.”42, aqui afirma-se que Deus escolhe os homens sem uma previsão ou condição pré-conhecida neles, temos aqui o ensino da eleição incondicional. Mais a frente a confissão afirma que “Para todos aqueles os quais Cristo obteve a redenção eterna, Ele, certa e eficazmente a aplica e comunica, fazendo por eles intercessão; unindo-os a si mesmo pelo Seu Espírito”43, o que parece defender a expiação limitada, pelo menos de forma mais clara que a confissão de 1689. Sobre a ação da graça a confissão diz que “Este chamado [para a salvação] eficaz vem da graça especial e gratuita de Deus somente, não sendo de nada previsto no homem, nem de qualquer poder ou agência na criatura, sendo [o homem] totalmente passivo nisso, estando morto em pecados e transgressões, até ser vivificado e renovado pelo Espírito Santo”44, uma exposição da graça na sua forma irresistível. Sobre a perseverança a confissão afirma que “Aqueles a quem Deus aceitou no Amado, efetivamente chamados e santificados por seu Espírito, e dada a preciosa fé de Seus eleitos, não podem nem total nem definitivamente cair do estado de graça, mas certamente perseverarão nEle até o fim, e serão salvos eternamente, visto que os dons e chamados de Deus são sem arrependimento, de onde Ele ainda gera e nutre neles fé, arrependimento, amor, alegria, esperança e todas as graças do Espírito para a imortalidade”45, não aceitando a apostasia como uma realidade para o cristão verdadeiro. Esta confissão é aderente ao calvinismo tulipiano ou de cinco pontos.

Artigos de Fé da Associação Batista do Mississipi (1806)

A próxima confissão de Fé foi feita pela Mississipi Baptist Association (Associação Batista do Mississipi), que foi fundada em 1806. Esta confissão afirma que seus aderentes criam no “ …eterno amor de Deus pelo Seu povo; na eleição incondicional de um número definido de seres humanos para a graça e glória”46 sendo a primeira confissão de fé batista a mencionar o termo “eleição incondicional”, portanto, aderindo ao ensino da eleição incondicional. A confissão também afirma que estes eleitos são “…no tempo, efetivamente chamados, regenerados, convertidos e santificados; e são guardados pelo poder de Deus, por meio da fé, para a salvação.”47, aderindo ao ensino da graça na forma irresistível e, subsequentemente, no mesmo artigo, a perseverança dos santos. Quanto à expiação a confissão faz uma afirmação sobre a redenção dos eleitos, mas não afirma uma limitação da mesma somente para estes, embora dê a entender uma crença na expiação limitada. A confissão se aproxima do calvinismo tulipiano ou de cinco pontos.

Confissão de Fé Batista de Sandy Creek (1816)

Outra confissão e fé feita nos EUA foi a confissão a Associação Batista em Sandy Creek, tal expressou a fé dos batistas principalmente na Carolina do Norte e Virgínia. A confissão, no tocante a soteriologia define que a eleição “ … é desde a eternidade,o chamado eficaz do Espírito Santo de Deus, e a justificação no seu núcleo somente pela imputação da justiça de Cristo”48, corroborando com o ensino da eleição incondicional. Mais a frente, no mesmo artigo a confissão diz que “ …aqueles que foram eleitos, eficazmente chamados e justificados, perseverarão pela graça até o fim, e nenhum deles se perderão”49, ensinando também a visão preservacionista da perseverança dos santos. A confissão tem poucos artigos sucintos e simples, portanto apenas essas asserções são feitas sobre a soteriologia, o que a coloca entre o calvinismo de quatro pontos, amiraldismo e o calvinismo de cinco pontos.

Confissão de Fé Batista de New Hampshire (1833)

Esta talvez seja a confissão de fé mais famosa e conhecida entre as confissões americanas, depois desta muitas outras confissões foram feitas baseadas nela. A confissão tem um tom mais conciliatório, fazendo afirmações mais generalizadas e menos específicas sobre os aspectos soteriológicos, embora muitos afirmem que isso foi devido a sua brevidade e não intenção original, fato é que, a partir daqui, as confissões batistas foram se tornando mais conciliatórias nesse ponto. A confissão foi redigida pelo pastor John Newton Brown e se espalhou pelos batistas, principalmente do Norte e Oeste dos Estados Unidos. A confissão, sobre o alcance da salvação diz que “ …as bênçãos da salvação são colocadas à disposição de todos pelo evangelho; que é o dever imediato de todos aceitá-las por uma fé cordial, penitente e obediente; e que nada impede a salvação do maior pecador na terra exceto sua própria depravação inerente e rejeição voluntária do evangelho”50, advogando portanto uma expiação ilimitada. Quanto a eleição, como já dito a confissão faz uma afirmação geral dizendo que “a eleição é eterno propósito de Deus, segundo o qual Ele graciosamente regenera, santifica e salva pecadores; que sendo perfeitamente consistente com a livre agência do homem”51, sendo que tanto os adeptos da eleição condicional quanto da incondicional podem aderir a esta sentença. Mais a frente a confissão diz acerca dos que são salvos que “são crentes legítimos aqueles que resistem até o fim; que seus perseverantes vínculos com Cristo é o grande marco que distingui-os dos professos superficiais; que uma especial providência zela por seu bem-estar; e eles são guardados pelo poder de Deus através da fé para a salvação”52, aderindo a visão da perseverança dos santos, sem possibilidade de apostasia real. A confissão não faz afirmações diretas sobre a graça divina em seu agir (se irresistível ou resistível). Esta confissão pode ser considerada em um “calvinismo moderado” ou “arminianismo moderado” não tendo, por ela própria uma classificação soteriológica que faria jus ao seu texto.

Tratado Sobre a Fé e Prática dos Batistas do Livre Arbítrio (1834)

Essa confissão foi preparada por dois anos por um grupo de batistas insatisfeitos com a confissão de fé de 1742 (Filadélfia). Foi uma confissão batista geral, que foi importante para expor a fé dos batistas gerais (que não tinham uma tradição confessional americana forte como os batistas particulares). Essa confissão afirmava o sacrifício de Cristo foi “ …pelos pecados do mundo, e assim tornou a salvação possível para todos os homens”53, confessando a expiação de forma ilimitada. Sobre a atuação da graça na chamada ao evangelho a confissão diz que “O chamado do Evangelho é coextensivo com a expiação a todos os homens, tanto pela palavra como pelos esforços do Espírito, de modo que a salvação se torne igualmente possível a todos; e se alguém falha na [resposta a] vida eterna, a falha é inteiramente sua.”54, sendo então uma confissão que vê resistibilidade da graça divina (graça resistível). Mais a frente a confissão diz que “ …a obediência futura e a salvação final não são determinadas nem certas, visto que, devido à enfermidade e múltiplas tentações, [os cristãos] correm o risco de cair; e devem, portanto, vigiar e orar para que não naufraguem de sua fé e se percam.”55, ou seja adere a crença na possibilidade de um cristão se apostatar. A confissão se aproxima muito do arminianismo clássico.

O Abstrato de Princípios (1858)

Essa confissão foi a utilizada pelo Seminário Teológico Batista do Sul dos EUA, foi uma confissão tida como fundamental para adesão dos professores deste seminário. A confissão afirma sobre a eleição que “é a escolha eterna de Deus de algumas pessoas para a vida eterna – não por antever algum mérito neles, mas meramente pela sua misericórdia em Cristo – em consequência da qual estes são chamados, justificados e glorificados”56, aqui temos um problema de ordem semântica visto que a previsão é de algum mérito, não a fé, o que pode ser aderido por basicamente todas visões soteriológicas. Mais a frente a confissão afirma que o salvo “nunca cairá total ou definitivamente do estado de graça, mas certamente perseverará até o fim”57, uma clara referência a crença na perseverança do santos. Assim como a confissão de fé de New Hampshire, esta confissão poderia ser facilmente aderida por vários grupos soteriológicos, e por batistas gerais e particulares.

Análise das confissões batistas inglesas e americanas

Após vermos e expormos as confissões batistas em seus aspectos soteriológicos, podemos concluir algumas coisas. Primeiramente podemos observar que todas as confissões batistas (e também aquelas “pré-batistas”) são unânimes em afirmar o estado de incapacidade natural do homem para a salvação, independente de defender uma visão mais libertária ou mais determinista da providência divina e demais aspectos salvíficos (eleição, graça, expiação, etc). Isso significa que um verdadeiro batista se atém ao ensino da Depravação total do homem, sendo então rejeitado como batista todo aquele que se opõe a este ensino, disso já depreendemos que as visões pelagianas e semipelagianas não podem fazer parte de um ensino soteriológico (e antropológico) de qualquer igreja ou indivíduo que se denomine batista.

Em um segundo momento, a partir da análise dessas confissões, vimo que elas tomam várias posições soteriológicas em todos os aspectos. Isso significa que, dentro da tradição batista, vários pontos soteriológicos são aceitos, podendo então um batista ser tanto quem crê numa eleição condicional, quanto na incondicional, tanto quem crê numa expiação ilimitada quanto limitada, tanto quem crê numa graça resistível ou irresistível, numa apostasia real ou nominal. Portanto, não há justificativa histórica e identitária para afastar alguém que crê em qualquer um desses elementos como um legítimo e verdadeiro batista. Isso é importante para afastarmos de nossos corações e prática um comportamento sectário quanto ao campo soteriológico, acabando por detratar parte da própria história confessional e tradição batista por causa disso.

Também podemos concluir que existem confissões que são moderadas ou abrangentes, tanto na tradição batista inglesa quanto na americana mais moderna. Esse é um indicativo de que os princípios batistas (ordenanças, governo eclesiástico, separação da Igreja e Estado, etc) são maiores e mais agremiadores que sectários e secundários. Esse aspecto agregador e de cumplicidade entre batistas de diferentes vertentes soteriológicas é algo que historicamente sempre existiu (desde Leonard Busher, um batista paticular, que era da congregação de Hewlys e Smyth, batistas gerais), afastando e condenando qualquer visão mais extremista acerca de irmãos batistas que creêm de uma forma diferente.

Como dissemos no início, existem hoje basicamente dois tipos de batistas no aspecto soteriológico: gerais e particulares. Baseado nisso temos alguns números bem interessantes: os batistas particulares possuem 8 confissões ao todos (excluindo a de New Hampshire, que era mais agregadora), e o batistas gerais também possuem 8 confissões ao todo (excluindo a de New Hampshire também), isso significa que ambos lados tem forte peso confessional e não há “lado majoritário” no quesito confessional, sendo que isso reforça a amplitude da tradição batista no quesito soteriológico. Todas essas confissões são legitimamente batistas, não sendo autoradas ou impostas ao povo batista em nenhuma época, sendo fruto do entendimento daqueles batistas naquele contexto e tempo, não podendo então, nenhuma que seja, ser descartada para favorecer algum lado na questão soteriológica.

O povo batista tem muito que se orgulhar de sua tradição confessional e identitária, e, no campo da soteriologia, tem diversidade suficiente, dentro da ortodoxia, para amparar várias linhas de pensamento soteriológico, que lembremos sempre disso em todos os diálogos e debates intrabatistas acerca da soteriologia.

Referências Bibliográficas

(1) Confissão de Fé Waterlander, artigo VII, disponível em <https://gameo.org/index.php?title=Confession_of_Faith_(Waterlander,_1577)#I._God>.

(2) idem 1

(3) A True Confession, 3, disponível em http://www.reformedreader.org/ccc/atf.htm.

(4) A True Confession, 3, disponível em http://www.reformedreader.org/ccc/atf.htm.

(5) idem 1.

(6) John Smyth, A SHORT CONFESSION OF FAITH IN XX ARTICLES, 1609, disponível em http://www.reformedreader.org/ccc/scof.htm.

(7) John Smyth, A SHORT CONFESSION OF FAITH IN XX ARTICLES, 1609, disponível em http://www.reformedreader.org/ccc/scof.htm.

(8) Thomas Hewlys, A Declaration of Faith of English People Remaining at Amsterdam in Holland, art. 5

(9) ibid. art. 7

(10) PROPOSITIONS AND CONCLUSIONS CONCERNING TRUE CHRISTIAN RELIGION, 1612-1614, art. 26.

(11) ibid., art. 28

(12) ibid., art. 79

(13) A Confissão de Fé de Londres de 1644, art. VI e XII. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/credos/confissao-londrina-1644.pdf.

(14) ibid, art. XXI.

(15) ibid, art. XXIV.

(16) ibid, art. XXIII.

(17) The Faith and Practice Of Thirty Congregations, art. 17. Disponível em http://baptiststudiesonline.com/wp-content/uploads/2007/08/first-general-baptist-confession-1651.pdf

(18) ibid., art 28

(19) ibid., art. 31

(20) ibid., art. 45

(21) The True Gospel-Faith Declared According to the Scriptures, art. 4. Disponível em http://www.reformedreader.org/ccc/tgf.htm

(22) Midland Confession of Faith, art. 5. Disponível em https://img.sermonindex.net/modules/articles/article_pdf.php?aid=17274

(23) ibid., art. 6

(24) ibid., art. 5.

(25) ibid., art. 7

(26) Somerset Confession of Faith, art. 9. Disponível em http://theangus.rpc.ox.ac.uk/treasures/a-confession-of-the-faith-of-several-churches-of-christ-in-the-county-of-somerset-and-of-some-churches-in-the-counties-neer-adjacent/

(27) ibid., art. 11

(28) ibid,, art. 15

(29) A Brief Confession or Declaration of Faith, art. 3. Disponível em https://quod.lib.umich.edu/e/eebo2/A77416.0001.001/1:1?rgn=div1;view=fulltext

(30) ibid., art. 4

(31) ibid., art. 4

(32) ibid., art. 8

(33) Orthodox Creed, Of Predestination and Election, art. 9

(34) ibid., Of Christ Dying For All Mankind, art. 18

(35) ibid., Of Free-Will In Man, art. 20

(36) ibid., Of Vocation And Effectual Calling, art. 21

(37) A Confissão de Fé Batista de Londres de 1689, Cap. 3, 5. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/credos/1689.htm

(38) ibid., Cap. 10, 1

(39) ibid., Cap. 8, 8

(40) ibid., Cap. 12, 1

(41) ibid., Cap. 15, 5

(42) Confissão de Fé Batista da Filadélfia, Cap. 3, 2, 3. Disponível em https://www.alliancenet.org/the-philadelphia-confession-of-faith.

(43) ibid., Cap. 8, 8.

(44) ibid., Cap. 10, 1.

(45) ibid., Cap. 17, 1.

(46) Mississippi Baptist Association Articles of Faith, 4. Disponível em http://www.reformedreader.org/ccc/1806msbc.htm.

(47) Mississippi Baptist Association Articles of Faith, 6. Disponível em http://www.reformedreader.org/ccc/1806msbc.htm.

(48) Principles Of Faith Of The Sandy Creek Association, art. IV. Disponível em http://www.reformedreader.org/ccc/sandycreekconfession.htm

(49) ibid.

(50) Confissão de Fé de New Hampshire, art. 6. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/credos/new.htm

(51) ibid., art. 9

(52) Confissão de Fé de New Hampshire, art. 11. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/credos/new.htm

(53) Treatise of the Faith and Practices of the Free Will Baptists, cap. VI.

(54) ibid., cap. VIII.

(55) Abstract Of Principles, V. Disponível em https://www.sbts.edu/about/abstract/

(56) ibid., XIII. 

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